Bursite trocantérica ou Síndrome dolorosa do grande trocanter (SDGT)
- Dr. Carlos Rava
- 17 de mar. de 2021
- 3 min de leitura
A dor na face lateral do quadril muitas vezes é decorrente da bursite trocantérica ou, como mais recentemente conhecida, da síndrome dolorosa do grande trocanter.
O trocanter maior localiza-se na parte mais superior do fêmur, é a saliência óssea que você pode palpar na lateral do quadril imediatamente abaixo do local onde passa o cinto da calça. Dois músculos muito importantes se inserem no grande trocanter através dos seus tendões: o glúteo médio e o glúteo mínimo. Outra estrutura importante, que está em íntima relação com o grande trocanter e os tendões glúteos citados, é o trato iliotibial, ele é um ligamento que se estende desde a bacia até o joelho cobrindo a região do grande trocanter maior. Interposta entre o trato iliotibial os tendões glúteos, com a finalidade de diminuir o estresse entre os tendões glúteos e o trato iliotibial, está a bursa trocantérica. Ao contrário do que muitas pessoas pensam, também temos bursas no quadril embora as mais famosas sejam as do ombro.

Agora eu quero explicar para vocês por que o nome trocou de bursite trocantérica para a síndrome dolorosa do grande trocanter. Quando se fala em síndrome nós estamos nos referindo a um determinado conjunto de sinais e sintomas que pode decorrer de diferentes causas e é exatamente isso que aconteceu com bursite trocantérica. Com o avanço das técnicas de imagem e os achados de cirurgia se verificou que na grande maioria dos casos de dor lateral do quadril as bursas da região não estavam acometidas, desta forma não havia sentido a denominação de bursite. O real sítio gerador de dor em mais de 40% dos casos são alterações dos tendões glúteos que podem estar espessados ou rompidos. Outro sítio gerador de dor é o trato iliotibial que também pode se apresentar espessado.
O diagnóstico não é tão simples, pois outras estruturas do quadril como a articulação em si e até mesmo outras regiões do corpo como a coluna lombar e a articulação sacroilíaca também podem irradiar dor na face lateral do quadril. Agora você é capaz de perceber como muitas vezes se torna difícil chegaram a uma conclusão sobre a real causa da dor lateral no quadril, principalmente quando os exames de imagem mostram alterações em mais de um dos possíveis locais geradores de dor citados acima. Os melhores exames de imagem para avaliar a dor lateral do quadril são a ressonância magnética e o ultrassom.
Por que estes tendões adoecem? A doença tendinosa muitas vezes está associada a excesso de atividades físicas, com sobrecargas acima das suportadas pelo tendão, mas não se engane, o outro lado da moeda também é prejudicial, os pacientes sedentários também apresentam degeneração tendinosa mesmo sem praticar atividades físicas e são predispostos a ter dor. Qual o ideal? Praticar atividades físicas de maneira regular e com intensidade moderada evitando os exageros para manter a saúde dos tendões.
A síndrome dolorosa do grande trocanter acomete de 10-25% da população em alguma fase de sua vida, acometendo quatro mulheres para um homem, principalmente aquelas com idade entre 40 e 60 anos de idade.
Além da dor ao toque na região do trocanter maior, a pessoa também vai se queixar de dor irradiada na face lateral da coxa que pode chegar até o joelho e de dificuldade para dormir porque quando ela se deita sobre o lado acometido acorda devido a dor. Alguns pacientes vão relatar dor para subir escadas ou dor após caminhadas.
A maioria dos casos de síndrome dolorosa do grande trocanter respondem a medidas convencionais como medicação, gelo, repouso e fisioterapia. Os casos mais resistentes podem necessitar de injeções. As injeções devem ser sempre guiadas por um método de imagem para se garantir a entrega da medicação no local correto e evitar complicações de injeções em locais inadequados. Injeções de corticoides embora muitos controversas, devido efeito deletério para o tendão, aliviam as dores dos pacientes em 60 a 100% dos casos, mas este alívio muitas vezes é temporário, com retorno dos sintomas em 4 a 6 meses. Novas substâncias vêm sendo testadas para tratamento com injeções nas afecções dos tendões. Dentre elas o ácido hialurônico vem apresentando bons resultados.
A dor lateral no quadril às vezes é de difícil diagnóstico, o diagnóstico equivocado leva a tratamentos ineficientes e o corticoide vem sendo cada vez menos utilizado devido ao seu efeito deletério para o tendão e sua falta de eficácia a longo prazo.
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